Governança colaborativa nos consórcios públicos: uma análise crítica dos paradoxos estruturais

Autores

Palavras-chave:

Consórcios públicos. Governança colaborativa. Gestão municipal. Cooperação intermunicipal. Controle externo.

Resumo

Este artigo explora a relevância dos consórcios públicos como instrumentos de gestão eficiente no âmbito municipal, com foco na governança colaborativa entre os entes federativos consorciados. Analisa-se a evolução do conceito de governança, desde suas acepções clássicas até o paradigma da governança colaborativa. Adicionalmente, aborda- se o entendimento do Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina (TCE/SC) sobre a matéria, conferindo uma perspectiva prática e contextualizada. A pesquisa demonstra que os consórcios públicos, ao promoverem a cooperação intermunicipal, otimizam recursos, aprimoram a prestação de serviços e impulsionam o desenvolvimento regional, sendo ferramentas essenciais para uma Administração Pública moderna e responsiva. Este estudo adota uma abordagem qualitativa baseada em revisão sistemática de literatura e análise documental, abrangendo artigos publicados entre os anos de 2008 a 2025 e utilizando as bases de dados Scielo, Scopus, Web of Science (WoS). Para a análise da perspectiva do TCE/SC, foram examinados documentos oficiais, orientações técnicas, decisões e relatórios do período 2020-2025. A seleção priorizou materiais que abordassem especificamente a governança e os consórcios públicos. As limitações do estudo incluem a ausência de dados primários coletados junto aos gestores de consórcios e a concentração geográfica no estado de Santa Catarina.

Biografia do Autor

  • Henrique Lapa Lunardi, Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul)

    Mestre em Direito pela Universidade do Extremo Sul de Santa Catarina (Unesc). Professor de Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul). Assessor Jurídico do Consórcio Multifinalitário da AMUREL. Advogado em Direito Público.

Referências

ABRUCIO, Fernando Luiz; FILIPPIM, Eliane Salete; DIEGUEZ, Rodrigo Chaloub. Inovação na cooperação intermunicipal no Brasil: a experiência da Federação Catarinense de Municípios (Fecam) na construção de consórcios públicos. Revista de Administração Pública, v. 47, p. 1543-1568, 2013.

AGRANOFF, Robert; MCGUIRE, Michael. Collaborative public management: New strategies for local governments. Georgetown University Press, 2003.

ANSELL, Chris; GASH, Alison. Collaborative governance in theory and practice. Journal of public administration research and theory, v. 18, n. 4, p. 543-571, 2008.

ARNTSEN, Bjørnulf; TORJESEN, Dag Olaf; KARLSEN, Tor-Ivar. Asymmetry in inter-municipal cooperation in health services–How does it affect service quality and autonomy?. Social Science & Medicine, v. 273, p. 113744, 2021. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0277953621000769. Acesso em: 06 jul. 2025.

BRASIL. Decreto nº 9.203, de 22 de novembro de 2017. Dispõe sobre a política de governança da administração pública federal direta, autárquica e fundacional. Brasília, 2017. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/decreto/d9203.htm. Acesso em 14 jul. 2025.

BRASIL. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE): orientações e formas de atuação em consórcio. Brasília: FNDE, [s.d.]. 2024. Disponível em: https://www.gov.br/fnde/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/programas/pdde. Acesso em: 15 jul. 2025.

BRASIL. Lei nº 11.107, de 6 de abril de 2005. Dispõe sobre normas gerais de contratação de consórcios públicos e dá outras providências. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, 07 abr. 2005. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11107.htm. Acesso em: 15 jul. 2025.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Consórcios públicos. [S.l.]: MMA, [s.d.]. Disponível em: https://antigo.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos/cons%C3%B3rcios-p%C3%BAblicos.html. Acesso em: 15 jul. 2025.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Referencial básico de governança aplicável a órgãos e entidades da administração pública. 2. ed. Brasília: TCU, Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão, 2014. Disponível em: https://portal.tcu.gov.br/data/files/84/3B/F5/8F/F67F2510C313C586AC94C6C2/Referencial%20Basico%20de%20Governanca%20Publica.pdf. Acesso em: 14 jul. 2025.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Referencial básico de governança organizacional: aplicável a órgãos e entidades da administração pública. 3. ed. Brasília: TCU, Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão, 2020. Disponível em: https://portal.tcu.gov.br/biblioteca-digital/referencial-basico-de-governanca-organizacional-3-edicao.htm. Acesso em: 14 jul. 2025.

BRASIL. Tribunal de Contas da União. Referencial para avaliação de governança em políticas públicas. Brasília: TCU, 2014. Disponível em: https://portal.tcu.gov.br/biblioteca-digital/referencial-para-avaliacao-de-governanca-em-politicas-publicas.htm. Acesso em: 14 jul. 2025.

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE MUNICÍPIOS. Consórcios públicos intermunicipais: uma alternativa à gestão pública. Brasília: CNM, 2011. Disponível em: https://cnm.org.br/storage/biblioteca/Cons%C3%B3rcios%20p%C3%BAblicos%20intermunicipais%20-%20Uma%20alternativa%20%C3%A0%20gest%C3%A3o%20p%C3%BAblica.pdf. Acesso em: 15 jul. 2025.

EMERSON, Kirk; NABATCHI, Tina. Collaborative governance regimes. Georgetown University Press, 2015.

HEAD, Brian W. Wicked problems in public policy. In: Encyclopedia of public policy. Cham: Springer International Publishing, 2023. p. 1-8.

HEAD, Brian W.; ALFORD, John. Wicked problems: Implications for public policy and management. Administration & society, v. 47, n. 6, p. 711-739, 2015.

KWADWO, Victor Osei. Factors driving inter-municipal cooperation in the African Metropolis: A qualitative comparative analysis. Cities, v. 163, 106010, 2025. Acesso em: 06 jul. 2025.

LARA, Lucia Pereira; GRIMM, Isabel Jurema. Urban solid waste management in a public consortium: the case of Curitiba and the metropolitan region. Gestão & Regionalidade, v. 39, p. 1-21, 2023.

MAMADOU, D. et al. Factors driving inter-municipal cooperation in the African Metropolis. Cities, v. 142, 2025. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0264275125003105. Acesso em: 06 jul. 2025.

NAKAGAWA, R.; SANTOS, L. Exploring the role of inter-municipal cooperation for promoting water circular economy. Water Policy, v. 27, n. 2, p. 161-175, 2025. Disponível em: https://iwaponline.com/wp/article/27/2/161/106974/Exploring-the-role-of-intermunicipal-cooperation. Acesso em: 06 jul. 2025.

NASCIMENTO, Alex Bruno Ferreira Marques do et al. Inter-municipal cooperation based on Institutional Collective Action: the effects of public health consortia in Brazil. Revista de Administração Pública, v. 55, p. 1369-1391, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rap/a/c3dhbbWzxj9nTCH6bL8gNHD/. Acesso em: 14 jul. 2025.

OLIVEIRA, Emerson Ademir Borges de; MOLINA, Carollyne Bueno. A governança corporativa sob a ótica da lei anticorrupção empresarial (Lei nº 12.846/2013). Revista da Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, v. 30, n. 1, 2024.

OSBORNE, Stephen P. The New Public Governance? Public Management Review, v. 8, n. 3, p. 377-387, 2006. Disponível em: https://doi.org/10.1080/14719030600853022. Acesso em: 14 jul. 2025.

PERSSON, Bo. Exploring regional aspects of intermunicipal cooperation: an analysis of municipal federations for upper secondary education in Sweden. Territory, Politics, Governance, p. 1-19, 2025. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/21622671.2024.2427802. Acesso em: 14 jul. 2025.

PUNTILLO, Pina. Inter-municipal cooperation in service delivery and governance: insights from Italy. International Journal of Business Governance and Ethics, v. 12, n. 3, p. 197-217, 2017. Disponível em: https://www.inderscience.com/offers.php?id=88253. Acesso em: 14 jul. 2025.

QI, Huiting; RAN, Bing. Paradoxes in collaborative governance. Public Management Review, v. 26, n. 10, p. 2728-2753, 2024.

REDE DE CONTROLE DA GESTÃO PÚBLICA EM SANTA CATARINA. Nota Técnica nº 13/2024: implantação de corregedorias públicas municipais por meio de consórcios intermunicipais. Florianópolis: 2024.

RHODES, Rod AW. Understanding governance: policy networks, governance, reflexivity and accountability. Open University, 1997.

RIAZI, Fayaz; FIDÉLIS, Teresa; TELES, Filipe. Exploring the role of inter-municipal cooperation for promoting water circular economy: insights from a Southern European country. Water Policy, v. 27, n. 2, p. 161-181, 2025.

RITTEL, Horst; WEBBER, Melvin. Dilemmas in a general theory of planning policy science, v. 4, n. 2, p. 155-169, 1973.

SANTA CATARINA. Ministério Público de Contas junto ao Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina. Parecer MPC/AF/1318/2019. Processo nº CON 19/00938976. Assunto: possibilidade de um consórcio público extinguir o rateio fixo e definir percentual sobre o valor das atividades prestadas para financiar seus custos administrativos. Florianópolis: MPC/SC, 19 dez. 2019. Disponível em: https://consulta.tce.sc.gov.br/RelatoriosDecisao/ConsultaParecer/1900938976_142846.pdf. Acesso em: 15 jul. 2025.

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Ação preventiva do TCE/SC na análise de licitações promovidas por consórcios evita possíveis superfaturamentos. Florianópolis: TCE/SC, 2024a. Disponível em: https://www.tcesc.tc.br/acao-preventiva-do-tcesc-na-analise-de-licitacoes-promovidas-por-consorcios-evita-possiveis. Acesso em: 14 jul. 2025.

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Instrução Normativa nº 20/2015, consolidada. Florianópolis: TCE/SC, 2015. Disponível em: https://www.tcesc.tc.br/sites/default/files/leis_normas/INSTRU%C3%87%C3%83O%20NORMATIVA%20N%2020-2015%20CONSOLIDADA.pdf. Acesso em: 14 jul. 2025.

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Nota Técnica nº 13/2024: diretrizes para estimular a criação de corregedorias municipais. Florianópolis: TCE/SC, 2024b. Disponível em: https://www.tcesc.tc.br/sites/default/files/2024-12/Nota_Tecnica_13_2024_corregedorias_municipais.pdf. Acesso em: 15 jul. 2025.

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Parecer jurídico nº 1900938976_142846. Florianópolis: TCE/SC, [s.d.]. 2019 Disponível em: https://consulta.tce.sc.gov.br/RelatoriosDecisao/ConsultaParecer/1900938976_142846.pdf. Acesso em: 15 jul. 2025.

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA. Relatório técnico nº 2923619. Processo nº CON - 05/04260014. Florianópolis: TCE/SC, [s.d.]. 2007 Disponível em: https://consulta.tce.sc.gov.br/relatoriosdecisao/relatoriotecnico/2923619.HTM. Acesso em: 15 jul. 2025.

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA. TCE/SC adotará ferramenta colaborativa voltada para melhoria do fluxo de trabalho. Florianópolis: TCE/SC, 2024c. Disponível em: https://www.tcesc.tc.br/tcesc-adotara-ferramenta-colaborativa-voltada-para-melhoria-do-fluxo-de-trabalho. Acesso em: 14 jul. 2025.

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE SANTA CATARINA. TCE/SC disponibiliza orientações sobre prestação de contas de gestão de consórcio público. Florianópolis: TCE/SC, 2024d. Disponível em: https://www.tcesc.tc.br/tcesc-disponibiliza-orientacoes-sobre-prestacao-de-contas-de-gestao-de-consorcio-publico. Acesso em: 14 jul. 2025.

WANG, Jie; ULIBARRI, Nicola. Motivations for collaborative governance in China: a systematic review of the literature. International Review of Public Administration, p. 1-19, 2025. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/12294659.2025.2454057. Acesso em: 14 jul. 2025.

WU, Xun; RAMESH, Michael; HOWLETT, Michael. Policy capacity: A conceptual framework for understanding policy competences and capabilities. Policy and society, v. 34, n. 3-4, p. 165-171, 2015.

Downloads

Publicado

29-10-2025